Teologia Bíblica: comparando as obras de Walter Kaiser e Geerhardus Vos (Série Essencial Invisible College)

Esta é uma série de textos escritos para o curso de Teologia Essencial do Invisible College. O curso consiste no estudo de um tema da teologia por mês com leitura de um livro, materiais complementares em texto, áudio e vídeo, um fórum de perguntas e respostas com um convidado, uma sessão de tutoria com um dos professores em um grupo pequeno e a entrega de um texto (resenha ou artigo). O texto a seguir foi escrito em Fevereiro de 2021 para o tema Teologia Bíblica do Antigo Testamento.




Nos meses de Fevereiro e Março de 2021, o curso Teologia Essencial do Invisible College aborda a Teologia Bíblica, utilizando como livro-texto principal o clássico de Geerhardus Vos para a disciplina e, como leitura alternativa, a proposta de Walter C. Kaiser Jr. Estas obras serão analisadas comparativamente, em sua abordagem, metodologia e conteúdo. Cabe a ressalva de que o conteúdo analisado se refere às porções que tratam do Antigo Testamento, estudadas durante o mês de Fevereiro.

As obras introduzem a Teologia Bíblica enquanto disciplina teológica, definindo o seu estudo e esclarecendo a abordagem adotada pelo autor. Geerhardus Vos traz a definição: “Teologia bíblica é aquele ramo da teologia exegética que lida com o processo da autorrevelação de Deus registrada na Bíblia” (p. 16).

Nessa introdução, Vos discorre de forma bastante acadêmica os princípios, metodologias, usos e até críticas sobre a disciplina, reservando um capítulo inteiro (Capítulo 2) para explicitar a sua abordagem teológica. Kaiser, por sua vez, dedica-se em sua introdução a definir e explicar a “proposta epangélica[1] de teologia bíblica”, diferenciando-a das demais. Nesse esforço, acaba fazendo uma exposição mais ampla das diferentes abordagens teológicas a respeito da revelação bíblica, trazendo suas principais premissas e as críticas mais comuns.

A filiação teológica de cada um dos autores terá grande impacto não apenas no conteúdo da sua teologia bíblica, mas especialmente no método e na forma como ela é apresentada.

De tradição aliancista, Geerhardus Vos não se dá ao trabalho de explicar o que é o aliancismo, nem mesmo utiliza essa palavra para descrever a sua teologia. Ele não se interessa em destacar ou defender a sua posição frente a outras correntes teológicas. As inúmeras e ferrenhas críticas a outras publicações estarão localizadas e contextualizadas em seu texto, ao longo do estudo da revelação.

O epangelicalismo defendido por Kaiser Jr. não tem tanta visibilidade nos seminários teológicos. O próprio autor reconhece que as principais propostas de “unidade de perspectiva” bíblica são a aliancista e a dispensacionalista. Por isso mesmo, ele procura definir, criticar e diferenciar as principais correntes para, em seguida, apresentar a sua proposta “epangélica”, que não se baseia no(s) pacto(s) ou nas dispensações da graça, mas na promessa.

É importante destacar que, para defender a sua visão teológica, Kaiser acaba incluindo na visão aliancista algumas ideias minoritárias que são especialmente criticadas entre os aliancistas tradicionais, como a inclusão de diversas alianças “hipotéticas ou implícitas”. Essas diferenças são melhor abordadas quando ele trata das diferentes formas de relacionar Israel e a igreja.

Para melhor compreensão do conteúdo abordado a seguir, podemos definir rapidamente as correntes teológicas apresentadas até aqui.

A teologia da aliança (ou do pacto) encontra na aliança a unidade do plano de redenção. Ela distingue o pacto das obras (no Éden) do pacto da graça, narrado em Gênesis 3, que unifica toda a história do povo de Deus a partir desta aliança.

A teologia das dispensações faz franca separação entre Israel e a Igreja, sendo povos distintos, com os quais Deus se relaciona de modo peculiar e em tempos diversos. Neste sentido, não há unidade na teologia bíblica, mas uma cisão clara e proposital entre o Velho e o Novo Testamento.

A teologia da promessa, o epangelicalismo apresentado por Kaiser, tem na promessa de Deus, e não no pacto, o condão de unidade bíblica. Essa promessa feita à humanidade foi enriquecida e ampliada no decorrer da revelação.

Geerhardus classifica a revelação em pré-redentora e redentora. Esta é dividida didaticamente em períodos identificados pela pessoa que recebeu a revelação. Assim, o Antigo Testamento é dividido em duas grandes partes: o período mosaico e o período profético da revelação. Kaiser, por sua vez, abordará o Antigo Testamento livro por livro, agrupando-os em capítulos que localizam a promessa no conjunto bíblico apresentado.

Quanto ao conteúdo, Vos parece desenvolver um pensamento mais consistente, com a colaboração de sua abordagem histórico-linear. Ele não se preocupa em abordar todas os livros ou mesmo todas as narrativas bíblicas, mas em explorar o desenvolvimento progressivo da revelação sob a ótica da aliança. O autor aborda com profundidade o conteúdo da revelação através dos atos sucessivos em que ela se desdobra. Além disso, as pessoas que recebem essa revelação especial e as formas pelas quais Deus se revela são estudadas.

Importante destacar que o autor não demonstra amplo conhecimento apenas sobre a sua linha teológica, mas conhece muito bem as ideias que não se conformam com o seu ponto de vista. Frequentemente ele inicia os assuntos apresentando extensivamente as mais diversas teorias, chegando a confundir o leitor que se surpreende ao se deparar, em seguida, com as suas críticas sobre o que ele acaba de descrever com fidelidade. Quase sempre, o texto apresenta essa sequência: explanação de ideias equivocadas, crítica sobre essas ideias e apresentação da compreensão correta sobre o tema.

A escolha de Kaiser em apresentar o seu conteúdo a partir dos livros da Bíblia pode tornar a leitura mais reticente. Ainda que haja um ponto de convergência a ser apontado (a promessa), o “plano da promessa” não parece se desenvolver com o ritmo que Vos confere à sua obra. Conforme já destacado, os livros da Bíblia são apresentados de modo a explorar a sua posição em relação à promessa. Nessa perspectiva, o autor explora os principais assuntos de cada livro, com seu contexto, identificando-os com o tema atribuído à seleção que compõe o capítulo. De modo geral, Kaiser aborda um conjunto de temas mais extenso, procurando sempre associá-los à promessa, mas tem dificuldades em conduzir o leitor em sua linha de raciocínio. Não há qualquer dúvida, no entanto, quanto à sua erudição e capacidade de abordar cada um dos temas comentados.

Geerhardus Vos e Walter Kaiser Jr são teólogos de grande nome e muita sabedoria, que procuram responder à pergunta: “Qual o tema central da Bíblia?” Ainda que suas respostas sejam diferentes, ambos cumprem a missão de atrair o estudante para o estudo da teologia bíblica. Geerhardus Vos consegue trazer uma leitura mais agradável, mesmo tratando de temas mais difíceis, mas a leitura de Kaiser também é útil para conhecer e comparar outras perspectivas sobre a teologia bíblica.

Referências Bibliográficas

KAISER, Walter C., Jr. O plano da promessa de Deus: teologia bíblica do Antigo e Novo Testamentos. Trad. Gordon Chown, A. G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2011.
VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica. 2. ed. Trad. Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.



[1] O termo “epangélico” tem origem na palavra grega epangelia, isto é, promessa.

Um comentário:

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