Livros lidos Janeiro 2020

Cumprindo a meta ousada de ler um livro por semana, começamos o ano muito bem. Foram cinco livros (talvez seis, se eu terminar uma leitura hoje) com temas bem diferentes.


A economia da justiça (Richard Posner) 

Comecei a ler ano passado depois de muito tempo sem nenhuma leitura técnica. Sabe a primeira vez que você conversa com um adulto sobre assuntos de adulto depois da licença maternidade? Demorei bastante pra pegar o ritmo da conversa, mas ao mesmo tempo me senti aliviada em colocar o cérebro pra funcionar.
O livro apresenta a teoria da justiça segundo a análise econômica do Direito, usando o critério da eficiência para justificar as decisões. Apresenta uma análise histórica sobre como esse critério foi utilizado desde as sociedades primitivas, e depois traz alguns casos jurisprudenciais mais recentes.
Talvez eu esteja fazendo uma leitura muito superficial do tema, mas durante a leitura do livro eu me peguei usando, automaticamente, o critério da eficiência algumas vezes, e nem sempre cheguei num resultado que eu \consideraria moralmente justo, porque o critério da eficiência desumaniza um bocado as relações em jogo. Pode ser muito útil em centenas de casos, mas existem muitos outros em que não dá pra discutir em termos de riqueza, os valores são muito mais elevados do que simplesmente dinheiro.
O livro é da coleção Biblioteca Jurídica WMF. Brochura simples, com folha branca e fonte serifada. É daqueles que não ficam abertos onde você deixou. Não tive problemas com a tradução nem com a revisão. Exceto pela qualidade do material gráfico, foi tudo muito bem produzido.

Viagem ao centro da terra (Julio Verne) 

Estou aumentando o meu repertório de leitura na ficção científica. Sempre gosto de ter algum livro de ficção para uma leitura mais leve, mas não foi bem esse o caso. Apesar de trazer uma história muito interessante, o estilo do livro não é tão narrativo. Se você se distrair, vai esquecer que é ficção.
O livro é a narrativa do sobrinho e assistente de um cientista alemão que descobre uma pista sobre uma passagem que leva ao centro da terra e resolve testar essa teoria indo pessoalmente em uma expedição.
A história narrada em primeira pessoa não poupa de detalhes científicos que, apesar de fictícios, são realistas e muito verossímeis, assim como algumas publicações de "artigos científicos". A ideia de um submundo pré-histórico (ou antidiluviano, na linguagem utilizada na época em que o livro foi escrito) parece tão interessante que eu estou pensando em adotar como o meu terrabolismo.
O livro é da coleção de Clássicos da Zahar. Edição ilustrada com capa dura, miolo em papel offwhite e fonte serifada. A ilustração de capa é linda, em laranja e azul bem contrastante. Um trabalho primoroso da Zahar, agora incorporada à Companhia das Letras, que continuará produzindo a coleção. 

Líderes que permanecem (Dave Kraft) 

A última leitura do ano do Clube do John, o nosso clube do livro, que eu não consegui nem começar a tempo do encontro (foi mal, galera), mas li nas férias.
Um livro curto e objetivo sobre a experiência de um pastor veterano que trabalha exclusivamente com mentoria de líderes cristãos.
O assunto é interessante, mas não tem muita novidade a ser dita sobre o tema. É uma boa leitura para relembrar algumas questões que vão se perdendo no dia a dia e despertar algumas mudanças, aquele reajuste que periodicamente precisamos fazer para voltar ao trilho da melhor conduta. O que me chamou a atenção na leitura é que o autor apresenta um monte de dados e estatísticas sem fonte nenhuma (ou, segundo o twitter, fonte: vozes na minha cabeça), aquele discurso bem tiozão que fala uma estatística aleatória que ouviu na rua para confirmar o seu discurso. Desnecessário.
Brochura simples da editora Vida Nova, com miolo em folha branca e fonte serifada em tamanho grande. Capítulos curtos e linguagem simples, narrativa em primeira pessoa.

As cinco linguagens do amor das crianças (Gary Chapman e Ross Campbell). 

Eu gosto muito do livro As cinco linguagens do amor, do Gary Chapman, que acabou se tornando uma "franquia literária", convidando "especialistas" para aplicar e traduzir as cinco linguagens do amor em contextos diversos do relacionamento romântico. Eu já tinha lido a versão para adolescentes e ultimamente tenho lido (e comprado) muitos livros no tema da infância. Tanto que dei um tempo com os três livros acima, mas já estava pronta para retomar ao assunto.
O livro fala sobre os relacionamentos entre pais e filhos e como demonstrar amor de modo que o seu filho se sinta amado. Chama a atenção para o fato de que a comunicação do amor precisa atender ao modo como o outro entende o amor, e não apenas ao modo como você acha que as pessoas devem ser amadas. As cinco linguagens do amor são apresentadas em capítulos separados, com exemplos práticos, de forma bem didática. Os capítulos finais aplicam o tema das linguagens do amor a situações específicas: disciplina, aprendizado, ira, maternidade/paternidade solo.
O que eu mais gostei desse livro é que traz muitos exemplos, muitas sugestões e ideias de como demonstrar amor. Você não precisa ficar refletindo "e agora, como vou aplicar isso na minha vida?" porque já tem um monte de ideias, não só as que o livro trouxe, mas outras derivadas dos exemplos do livro. O capítulo sobre a disciplina foi péssimo, e não digo isso somente por causa do meu ponto de vista sobre o assunto. Parece que os autores não concordam sobre o tema da disciplina, porque ficou bem contraditório. Algumas condutas são criticadas, e depois estimuladas, ou passam panos quentes sobre questões "disciplinares" que definitivamente não comunicam amor, mas que são utilizadas e muitas vezes incentivadas nas famílias conservadoras. Nesse intuito de não desagradar ninguém, o capítulo inteiro ficou uma porcaria sem sentido.
A edição em brochura simples da Mundo Cristão tem miolo em papel polen soft e fonte serifada. Com exceção dos trechos em que claramente não há consenso entre os autores do livro, a edição está bem feita e bem escrita. Pouco se nota sobre o que foi escrito por um ou por outro.

O rei das fraudes (John Grisham). 

John Grisham é praticamente a "literatura de banca" em versão jurídica. Não é bom, mas eu curto como entretenimento. No fim das férias, eu só queria isso.
O livro conta a história de um advogado meio loser que recebe de presente um caso de ação coletiva, dando uma guinada na carreira dele. O personagem passa a lidar com vários casos parecidos, ganha muito dinheiro, fica muito famoso, mas depois acaba sendo processado pelos próprios clientes e vai à falência.
Passei o livro todo torcendo pelo infeliz do Clay Carter, que parece estar tomando todas as melhores decisões na primeira metade, mas depois só faz besteira atrás de besteira. Você está vendo a decadência da pessoa ali na frente e já sabe como a história termina, mas mesmo assim torce pelo infeliz. O pano de fundo das ações coletivas é uma discussão jurídica séria e importante, mas acaba se perdendo em uma tradução ruim, a começar pelo título. "Fraude", na nossa tradição jurídica, está ligada ao estelionato, que não é nem de longe o que o personagem faz. Passei um tempo considerável confusa sobre o título até a ação coletiva entrar na jogada. Quem não está familiarizado com o termo tort talvez nunca entenda a referência.
As brochuras da Rocco são sempre ruins, especialmente essa de quase 400 páginas. A capa está soltando, bem típico dos livros dessa editora. O miolo é em folha branca simples e fonte serifada. Eu gosto da arte da capa e queria que eles continuassem a editar os livros do autor nesse padrão, mas parece que já voltaram ao padrão antigo (que é nenhum). A tradução me incomodou demais. É ruim mesmo. Quase todos os termos jurídicos estão mal traduzidos, e mesmo algumas expressões foram traduzidas literalmente, de modo que não fazem sentido nenhum em português. Ruim que chega a doer. Me lembrou as traduções que a gente fazia na adolescência, talvez até pior. Um péssimo trabalho. Parabéns aos envolvidos.