Relato de parto: Maria Elisa - 23.01.2019


Na segunda-feira começou a sair o tampão (ele foi saindo aos pedaços durante o TP). Comentei com a fisioterapeuta, a doula e a instrutora do pilates, sem muita emoção. Pode ser hoje, amanhã, em três semanas...

Terça-feira começaram leves contrações de expansão... umas três pela madrugada, e continuando pela manhã. Perguntei pra fisio "ei, vc não esqueceu o epi-no aqui dentro? 😝". A sensação era idêntica. Fui no controle da respiração, conforme ela tinha me ensinado nas sessões e comecei a contar a duração e os intervalos com o aplicativo. Avisei a doula e o obstetra, que falou que poderia ficar assim por alguns dias ainda, "primeiros sinais, vamos ver como evolui".

Não quis alarmar a minha mãe. Falei pra ela dar uma faxina geral na casa (nesting but resting 🤣) e enquanto isso segui a orientação da doula: descansa, vc vai precisar de energia.

No fim da tarde mandei o relatório das últimas contrações pra equipe. Já estavam com ritmo, porém baixa intensidade. Eu estava meio confusa com a progressão das coisas, falei com a fisioterapeuta "É isso mesmo? Isso que é uma contração? Tá tudo certo, não tô contando errado?" Ela repassou comigo os sintomas e confirmou que eu estava, sim, entrando em trabalho de parto.

Antes de dormir mandei outro relatório das contrações pra equipe. Falei com a doula, que já estava de prontidão. Ela mandou eu parar de contar contrações e ir dormir. "Você precisa descansar!"

A madrugada foi difícil. Não consegui dormir mais de meia hora direto, sempre acordada por uma contração. O marido, atento, não dormiu nada. Lá pelas quatro da manhã ele ligou para a doula porque os intervalos já tinham diminuído bastante. Não sei o que eles conversaram, mas seguia na linha "certifique-se que ela descanse o máximo possível", porque foi isso o que ele fez.

As posições em que eu conseguia deitar e descansar geravam contrações muito mais doloridas. As posições que estimulavam a evolução eram mais confortáveis, mas aí elas vinham uma atrás das outra, e eu não conseguia descansar nada. Achei um meio termo entre sentada e deitada. Fui algumas vezes pro chuveiro, pra bola de Pilates...

Eu não conseguia mais dormir, e nem queria porque era ruim demais acordar com uma contração! 😅 Voltei a contar  as contrações e no comecinho da manhã mandei relatório pra equipe. Lá pelas sete da manhã o marido estava acabado. Se eu dormi pouco, ele dormiu nada. Chamei a doula, pensando que assim ele poderia descansar. Avisei o obstetra sobre o ritmo das últimas contrações. O obstetra ficou feliz com a evolução e já avisou no consultório que poderia precisar desmarcar as consultas. Ele disse que queria me examinar quando estivesse com contrações de 4/5 minutos de intervalo.

Quando estávamos escutando os batimentos fetais, a minha mãe acordou. Ela achou que era só um exame em casa e perguntou "e aí, será que nasce por esses dias?" 🤣 "Olha, talvez nasça ainda hoje!" Só então eu contei pra minha mãe que estava com contrações desde o dia anterior, ela nem tinha desconfiado.

Decidi fazer um exame de toque ainda pela manhã para saber "a que ponto chegamos". Quatro centímetros. "O seu colo parece um ovo frito, todo molinho". O bebê estava em boa posição, mas ainda alto. "Agora vamos descer. A gente não precisa fazer toque toda hora pra avaliar a evolução. Vamos escutar o coração dela e conforme ele for descendo, nós sabemos que você está evoluindo".

Avisei a fisioterapeuta e a instrutora de pilates para cancelar meus horários à tarde. A minha expectativa era de parir lá pelas 16h. Fizemos o doppler quase que de hora em hora - em nenhum momento eu fui interrompida em situação de intimidade ou de descanso. Iluminação, temperatura e a presença e ausência de pessoas no quarto estavam a meu critério, afinal, eu estava em casa.

As contrações já vinham em sentido diferente. No primeiro dia, a pressão era para fora, abrindo a pelve (como nos exercícios com o epi-no, um aparelho utilizado na fisioterapia pélvica - por isso eu já conhecia a sensação). Agora, a pressão era para baixo, encaixando o bebê. A manhã passou mais tranquila. As contrações eram muito frequentes, mas não tão intensas - e eu não tinha a menor noção disso. Você não sabe que está doendo pouco até sentir uma dor mais forte.

Almocei bem - interrompendo para respirar durante as contrações. A doula avisou que o meu obstetra estava de plantão no hospital durante a tarde e queria me examinar nesse período. Eu pensei "tudo bem, acho que até o fim da tarde já vamos ter um bebê!" Depois do almoço consegui descansar quase uma hora, antes de uma nova rodada de contrações.

Depois do descanso, as contrações vieram mais fortes, e aí eu já vocalizava alto. Quase todo o tempo eu estava no quarto só com o marido. A doula entrava para verificar a evolução, respeitosamente, ou quando eu chamava. Sempre tinha algumas contrações nesse intervalo e ela aproveitava para ensinar o marido o que fazer pra me ajudar.

Nessa altura, eu não falava mais com o obstetra, pq ela estava em contato direto com ele, mandando todas as informações. Eu também parei de contar contrações, só queria que o tempo passasse e o trabalho de parto terminasse. Pense num dia comprido...

A doula lembrou que o obstetra queria me examinar. Combinamos de ir às 17h30 para o hospital. Cada movimento era uma contração. No carro, no estacionamento, na recepção, no acolhimento, na maca... Eu imaginava estar com uns 7cm de dilatação e já pensava se a essa altura seria melhor voltar para casa ou ficar de uma vez. O obstetra fez o toque e.. "maravilha! Está com quatro centímetros, o colo todo apagado, bebê totalmente encaixado! Só terminar essa dilatação que ela nasce. Vai pra casa, caminha, rebola, senta na bola de pilates... daqui a pouco a gente se vê".

Eu fiquei como? Frustradíssima! 🤣🤣🤣🤣🤣 O dia inteiro trabalhando pra dilatar nada?! Fomos pro cardiotoco. Os batimentos fetais estavam maravilhosos, como sempre. Na verdade a Maria Elisa estava dormindo, e olha que só durante o exame foram cinco contrações. No final, o obstetra fez um barulho pra acordar o neném, ela mexeu um pouquinho, mas não se incomodou, e provavelmente dormiu de novo 🤣

Voltamos pra casa e a doula explicou "Parece que não aconteceu nada, mas aconteceu muita coisa. O bebê já desceu bastante, já está todo encaixado. Agora a gente precisa entrar naquela última fase, quando o bicho vai pegar. Você precisa descansar pra chegar lá." Foi muito importante ela ter dito isso porque a frustração foi embora e eu voltei para casa tranquila.

Consegui dormir 45 minutos e acordei com uma dor filha da puta no meio das contrações. Parecia que era uma contração e um soco no cóccix ao mesmo tempo. Eu me sentia estrangulada. A estratégia de respiração não estava funcionando mais. Comecei a caminhar e percebi que estava com um sangramento maior.

Falei com a doula que estava acontecendo "alguma coisa errada", porque eu não estava conseguindo mais respirar nas contrações. Nada mais funcionava. Nem chuveiro, nem massagem, nem abraço, nem beijo... "Tentei sentar na bola e foi horrível, parecia que eu estava sentando numa vassoura". Ela comemorou! Diante da minha expressão confusa, explicou "Essa é uma contração de expulsão. Lembra quando eu falei que o bicho iria pegar? Chegamos naquela parte. Você pode fazer força se você sentir vontade. Essa vassoura é a cabeça do bebê 😅"

Marido ligou para o obstetra e todo mundo se preparou calmamente para ir ao hospital. Fomos bem devagarinho, enquanto eu sentia cada rachadura do asfalto e xingava o secretário de obras mentalmente.

Entramos no hospital, a doula e o marido me indicaram uma cadeira, mas eu sabia que uma contração estava chegando. O obstetra chegou imediatamente após, bem na hora em que começou a contração. Ele já preparou a maca e me examinou. Perguntou onde eu queria ter o bebê. Eu tava "Sei lá?! 🤷🏽‍♀"

*nessa parte o relato não é muito confiável, as coisas podem ter acontecido em ordem diferente, eu não estava prestando atenção hahahaha*
Falou com a enfermeira: "A sala da banheira tá ocupada? Não ta, né..eles não usam aqui... Vamos pra banheira?" Concordei e a doula me guiou. O obstetra foi se trocar e pedir minha internação, o marido ficou com as minhas coisas e foi lidar com os papéis da entrada. A equipe do hospital foi preparar a sala da banheira enquanto a doula me acompanhava e me segurava nas contrações.

O obstetra ligou a banheira que foi enchendo rapidinho, a iluminação na sala estava perfeita, mas eu estava com frio. Logo após uma contração eu falei com a doula "Eu acho que ela já está aqui!" Ela respondeu "Quer por a mão? Pode colocar a mão pra você sentir!" E estava lá mesmo! Um negócio meio redondo, meio pontudo, que com certeza não estava ali antes 🤣 Só tinha nós duas na sala, sei lá o que todo mundo tava fazendo. A cada duas palavras que eu dizia, três eram "Cadê meu marido?". Não que eu tenha dito muitas palavras, na verdade eu só vocalizava...

Senti a água morna da banheira e entrei porque estava com frio e a água estava uma delíciaaaaaaaa. Eu fazia força na água e a doula pescava os cocozinhos (faz parte). Chegou o obstetra, perguntando como a gente estava. Eu não falava mais nada com ninguém, só vocalizava e lembrava da fisioterapia e dos nossos ensaios de parto. Concentração total entre "distender o abdômen" e "essa menina vai nascer e o pai não chega".

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Enquanto isso, o marido esperava a recepção se resolver enquanto as duas recepcionistas discutiam entre si e com a mãe de um paciente e ninguém se agilizava para dar entrada na minha internação, sem os quais ele não poderia entrar.
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Ele chegou no meio de uma contração, quando terminou vi ele na minha frente e já disse: "você demorou pra chegar!" "Depois eu te conto.." já veio a próxima contração e eu já estava completamente focada. Agora já pode nascer! Em um puxo só saiu a cabeça. 21h49. De cócoras na água e notei que ela tava saindo pra trás e eu não conseguia agarrar ela desse jeito, mas não dava pra mudar de posição, aquilo estava acontecendo pra valer, não tinha como parar. No próximo puxo estourou a bolsa. No próximo saiu tudo. 21h52.

O obstetra tinha aparado o bebê e me entregou, e eu fiquei olhando assim 😍😵😍😵😍😵😍😵😍😵 e mostrei pro marido, beijei, cheirei 😍😍😍😍

Alguém me ajudou a sair da banheira, eu já tirei a teta e deixei ela procurando a sucção. Eu acho que eu sentei numa escada (?), o obstetra me convidou a sentir a pulsação do cordão, bem forte. Ficamos ali alguns minutinhos, logo o cordão esvaziou e ficou branquinho. Clampeou e o pai cortou.

O obstetra me perguntou se o bebê poderia ir para a rotina pediátrica enquanto ele me avaliava, e eu decidi que sim. Entreguei o bebê pro papai e fui para uma maca.

A enfermeira fez a coleta do sangue umbilical (meu Rh é negativo) do que ficou ainda no cordão que estava com a placenta - quase não deu meio tubinho de coleta.

O obstetra examinou o canal de parto, tudo íntegro, sem laceração, tudo maravilhoso, me deu os parabéns. Eu respondi que a minha fisioterapeuta estava de parabéns, porque a gente tinha ensaiado o parto 🤣 "Mas você lembra de fazer o que ensaiou numa hora dessas?" "É muita concentração! 😌" 

Depois de uma massagem, senti vontade de empurrar e fui distendendo o abdome. "Isso também foi ela quem me ensinou!" A placenta saiu inteira, de uma vez só, com um pedaço da bolsa. A gente brincou sobre servir a placenta já que ninguém tinha jantado e ele me deixou com a doula e foi ver o bebê.

A enfermeira chegou com a maca para me levar pra sala de observação, que é um protocolo do hospital: 2 horas na sala de observação, sem acompanhante (😒). Eu consegui ficar com a minha doula que disfarçadamente se aboletou ali e ninguém mandou sair. Ela me ajudou a me arrumar na maca, depois me ajudou a sentar, deitar de novo, sentar apoiada... 

Aí chegou o bebê e ela me ajudou com a primeira mamada. Com o bebê mamando em um seio, ela ordenhava o outro gota a gota em uma seringa, pra não correr o risco de quererem complementar com fórmula. Foram 5ml de colostro que ela também me ensinou a dar na seringa, além do que a criança tinha sugado no seio.

Então fomos liberadas para o quarto, mas o marido precisava assinar para pegar a chave.

CADÊ O MARIDO?

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Minutos antes, marido diz pra minha mãe: Eu acho que elas vão demorar, tem um protocolo de observação de duas horas. É melhor a gente comer alguma coisa.
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Era meia-noite, não achavam nem o marido, nem minha mãe que tava com ele. Pedi pra doula tentar ligar pro celular dele e não atendia. A enfermeira ligava em todas as recepções do hospital perguntando se tinha algum parente meu. A doula perguntou se ela poderia resolver a questão da chave, e foi.

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No meio do caminho, o marido vê as ligações perdidas da doula e volta pro hospital.
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Um tempinho depois, voltaram para nos buscar, já tinham encontrado minha família 🤣

Eles estavam me esperando no quarto. As enfermeiras quiseram dar banho no neném, eu não deixei. Aí eu fui tomar banho e minha mãe falou que apareceu uma enfermeira brava com um termo pra assinar por causa do banho da criança 🤣

Trocamos a fralda descartável do hospital que já tinha um cocozão pela fraldinha de pano. Era umas 3h quando todo mundo dormiu - neném, mamãe e papai - direto até de manhã, quando ela chorou pela primeira vez.

E foi assim que aconteceu a coisa mais linda da minha vida 😍😍😍😍😍