Enxoval minimalista

Pesquise sobre enxoval de bebê e você encontrará listas, infográficos e planilhas cheias de coisas que você precisa providenciar antes do nascimento da criança. As listas incluem quantidade de meias, toucas, luvas, e podem parecer tentadoras se você, como eu, gosta de ter tudo sob controle em uma planilha. O que não se vê por aí é um debate sincero sobre quantas coisas são realmente necessárias, e para quem.

Listas de enxoval não atentam para as necessidades da família, não observam o seu estilo de vida, nem as suas escolhas de maternidade. Quando muito, fazem leves adaptações para bebês que nascem no verão ou inverno. Mas e aí, do que um bebê realmente precisa?



Um recém-nascido não precisa de coisas. Ele vem ao mundo sem nada, querendo apenas colo e leite. No colo, ele está aquecido e acolhido. No peito, ele é alimentado e hidratado. Nos braços familiares, o bebê interage com o mundo, que vai se alargando aos poucos.

Bebês não conhecem coisas, e por isso não precisam delas. Quem precisa dessas coisas somos nós, para atender melhor o bebê enquanto continuamos lidando com as demandas da vida. Se eu não posso ficar aninhada na cama aquecendo o neném o tempo todo, então preciso vesti-lo. Se eu preciso me deslocar de carro com a criança, providencio o dispositivo de segurança adequado. Se eu preciso que o bebê durma perto de mim, ou que me dê algum espaço, mas ainda fique sob minha vigilância, terei as coisas que tornam tudo isso possível, adequado e confortável. Mas essas são as minhas necessidades. Por isso, a pergunta é: do que a sua família precisa?

Não sei.

Tudo bem não saber. Ainda mais quando o primeiro filho está para chegar. A gente não sabe. Essencial em uma família pode ser uma tralha nunca usada em outro lar. E se eu não sei que mãe eu sou, como me preparar pra isso? Existem dois jeitos de lidar com isso: comprando absolutamente tudo que há no mercado infantil só pelo "vai que precisa", ou esperando até a necessidade aparecer.

Algumas coisas são de fato importantes. Outras podem ajudar. Muitas coisas são só perfumaria, e mais um monte de coisinhas vendidas por aí na verdade só atrapalham.

Alimentação

Essencial é ter leite. Algumas coisas ajudam, mas muita coisa atrapalha. Muuuuita coisa só atrapalha. Se o seu plano é amamentar, não tenha mamadeiras, chuquinhas, chupetas, leite em pó em casa. Nem como plano B. Amamentar é difícil, principalmente no começo. Se você tiver um plano B, rapidinho o plano A ficará desinteressante. Deixar essas coisas na farmácia cria um obstáculo a mais para te ajudar a persistir amamentando.

O que pode ajudar? Uma boa almofada de amamentação (grande, alta e firme é melhor), bomba extratora de leite, coletor de leite a vácuo, absorventes de seio, sutiãs e roupas adaptadas para amamentar. Eu gosto de ter um copo pequeno (importante ter a boca pequena) ou uma colher dosadora quando o peito não estiver disponível. (É mais fácil usar mamadeira que aprender a dar no copinho? Sim. Mas o mais fácil nem sempre é o melhor.)

Higiene

Essencial é água e, depois do primeiro mês, sabão. (Pois é, geralmente não precisa banhar com sabão o recém-nascido). A maioria das coisas nessa área ajuda, mas muita coisa vira tralha ao longo do tempo. Eu prefiro dar banho na pia e no chuveiro do que em banheira (o trabalho de montar, desmontar, o espaço que ocupa... não acho prático, mas isso é pessoal). Também gosto mais de um trocador portátil por perto do que ter que levar o bebê até o trocador a cada troca de fraldas. Com o passar do tempo, o trocador acaba ficando só para os passeios.

É sempre bom ter uma pomada para assaduras, e na minha opinião nenhuma é melhor que a Weleda. Não usamos sempre porque com fraldas de pano não há necessidade, mas quando necessário basta passar uma vez. Em casa limpo com algodão (em quadrados) e água, ou direto na torneira, e uso lenços umedecidos somente para sair.

Passeio

Esse é um ponto que depende muito do estilo de vida de cada família. Não vejo necessidade de um carrinho de bebê para quem não costuma andar a pé. Já a cadeirinha, considero importante mesmo para quem não tem carro. Eventualmente você pode precisar sair de carro, de carona, e não deve esperar que o dono do automóvel tenha o dispositivo adequado para o tamanho do seu bebê. Não é só para obedecer a lei, é para salvar a vida. Acho que vale o investimento.

Gosto muito de carregadores de bebê, inclusive para usar em casa. Libera as mãos para fazer as coisas e mantém a criança por perto, acolhida e segura. Todos os modelos ergonômicos - que mantém o bebê virado pra você, nunca de costas em relação a quem carrega, e que deixam o bebê sentado com os joelhos acima do quadril, e não pendurado pela virilha - são legais: slings, mei tais, mochilas...

A bolsa ou mochila é do adulto. Você é quem vai carregar. Com o passar do tempo, a gente precisa de menos coisas à mão, e já não tem necessidade de andar cheio de trem por aí. Chega o dia em que dá pra deixar uma bolsa de "extras" no carro, por exemplo, e sair só com uma babita e uma fralda. Então, a bolsa é útil, mas não é fundamental... e uma ecobag também cumpre a função.

Quarto

É aconselhável que o bebê durma no mesmo quarto que os pais até 1 ano, principalmente nos primeiros seis meses. Isso reduz o risco de morte em bebês durante o sono, seja por asfixia acidental ou pela síndrome de morte súbita do lactente. Também melhora o sono para boa parte das mães, pelo menos para mim é muito mais tranquilo dormir com o bebê por perto do que ficar levantando a noite toda pra ver se está tudo bem. Daí você já vê que não tem pressa nenhuma em aprontar o quartinho do bebê, né?

Você pode fazer isso com calma, descobrindo aquilo de que você realmente precisa e até fazer um quarto que combina com a criança, com as coisas que ela gosta. Gosto de ter um tapete de tecido, a cama baixa para deitar com a criança e manter as coisas acessíveis para livre exploração do ambiente. Essas preferências refletem o que é importante pra gente, e pra que serve o quarto da criança. Se o quarto é dela, tem que ser bonito, útil, acessível e agradável para ela. Já pensou nisso?



Resumindo

Deu pra entender que as coisas não são assim, uma lista do Pinterest, né? O que está na minha lista pode não fazer sentido nenhum pra você. "É sobre isso, e tá tudo bem". Você pode experimentar, pode mudar de ideia, desistir, repensar, testar alternativas até encontrar o que dá certo por aí.  Principalmente no primeiro filho, quando você só tem ideias e expectativas que podem se materializar ou não.A sua experiência é única, como é a sua família e o seu filho também.

Se tiver que escolher onde colocar o seu dinheiro, meu conselho é que invista em pessoas: a doula que vai segurar sua mão no dia mais importante; a pediatra que vai te atender com calma e tirar todas as suas dúvidas; a consultora de amamentação experiente que vai resolver as suas maiores dores; a diarista que vai cuidar de tudo enquanto você cuida do bebê... do que você realmente precisa?

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