Relato de Amamentação

 Ela veio direto para os meus braços e, sem nem pensar, eu logo tirei a teta pra fora. Os primeiros dias na maternidade foram tranquilos. Me perguntavam se ela mamou, se fez xixi, se eu estava sem dor. Sim, sim, sim.Selfie tirada pelo pai na sala de parto, após o nascimento de Maria Elisa, com toda a equipe. Maria Elisa está nos braços da mãe, com a cabeça próxima ao seio desnudo.

Tudo parecia perfeito. Recebemos a visita da consultora de amamentação. Avaliou a pega, a língua, a mamada, orientou algumas posições. O bebê estava mamando. Foi ótimo. Me senti confiante.

Mas a cada mamada ela ficava mais incomodada. Chorava, se irritava, e eu me escondia para amamentar para evitar os palpites, os olhares aflitos, as sugestões miraculosas. Maria emagrecia.

Fui ao Banco de Leite, que ajuda muita gente. Avaliaram a pega, a língua, a posição, a mamada... Era leite pra todo lado. Saímos banhadas e sem respostas. Por que ela chora tanto?

Eu respondia que ela estava aprendendo a mamar, mas eu sabia que não tinha nada normal no nosso processo. Ela estava emagrecendo, mas eu insistia em esperar a consulta com a pediatra.

Cheguei na clínica com medo da balança, tão angustiada que esqueci a bolsa de fraldas em casa. A pediatra nos atendeu com preocupação, mas principalmente com afeto e confiança. Eu tenho certeza que de qualquer outro consultório eu teria saído com uma receita de leite artificial. Ela me disse que era possível complementar com meu próprio leite e sugeriu outra visita da consultora em aleitamento.

Naquela tarde, a consultora me ligou e à noite estava na minha casa. Constatou que o fluxo muito intenso e o peito cheio, grande, pesado estavam dificultando o trabalho do bebê. Me ensinou técnicas de manejo para resolver o problema, mas não era o suficiente para aquele momento. Entramos em um regime de engorda-bebê.

Compramos uma máquina extratora de leite materno e usamos todas as técnicas que aprendemos com a consultora. No primeiro dia, bico artificial de silicone, para sair do estado crítico. Depois, fizemos translactação - amamentação com sonda complementando com o leite extraído nos intervalos das mamadas. O pai ajudava alimentando com o copo ou com o dedo através da sonda, e assim eu conseguia dormir.

Deu certo.

Criança engordando, amamentação funcionando, deixei de ordenhar com a máquina pra não estimular ainda mais a produção. Todos os dias fazia ordenhas de alívio que diminuíam um carocinho no seio esquerdo até quase sumir, mas não conseguia eliminar tudo.

Até que ele parou de diminuir e passou a aumentar. Falei com a consultora, que me orientou com massagens, compressas e mil cuidados para não virar uma mastite. Mas depois de aumentar, começou a doer, e quando passou a doer o tempo todo, fui no Pronto Atendimento.

Por cinco dias, eu não tinha mais acesso ao GO de plantão. Cheguei já com um pequeno abcesso, que a médica concluiu que era leite, porque do peito saía leite. Voltei pra casa pra fazer o que já estava fazendo e voltar se tivesse febre.

Dois dias depois, tive febre. Fui atendida por outra médica que parecia nunca ter visto uma mastite, mas pelo menos soube identificar a primeira que viu. Receitou os antibióticos, fez consulta de sangue e, em consulta com outro médico que nunca me viu, concluiu que não seria necessário drenar. Marquei consulta com o meu GO para a semana seguinte.

Dois dias depois, tirei o seio para amamentar e tive a impressão de que estava prestes a explodir. Latejava e tentar amamentar era inútil porque o bebê não aceitava.

Fui para o hospital pedir ajuda, chorando e tremendo, e senti a pior dor da minha vida no procedimento de drenagem. Muito pior do que parir sem anestesia. Foi a penúltima dor - ainda teve uma Benzetacil - seguida de vários dias de opióides. Meu médico me receitou mais antibióticos. Seguimos com a amamentação, com curativo e tudo.



75 dias pós parto, acordo de madrugada com muito frio. 39° de febre e nenhuma causa aparente, inclusive os peitos estavam bem. Dengue não era. Fui pro hospital e voltei sem respostas. À noite, durante a ordenha manual, secreção no mesmo seio da primeira mastite. Retornamos com o protocolo de antibióticos, e foi tudo mais tranquilo dessa vez.

Tive dengue, desidratei e transformei soro em leite. Nunca deixei de amamentar, nunca deixei de ter leite. Concluímos seis meses de aleitamento materno exclusivo com um sentimento de vitória.



Forte como uma mãe! Foi por essa força, por não desistir, insistir e até amamentar que prosseguimos com a amamentação até hoje. Valeu a pena toda essa força. Tenho muito orgulho da minha história, de ter passado por todos esses perrengues sem desistir, e hoje faço o possível para encorajar outras mães à amamentação.

Há 19 meses amamento a Maria Elisa e estamos muito satisfeitas com a nossa relação. Ela sabe que "a teta é da mamãe", e atualmente só quer mamar na cama, quase sempre para dormir. Se já pensei em desmame? Oh! Várias vezes... mas o pensamento passa e a vontade de continuar amamentando permanece. Eu amo os nossos momentos de tetê e não acho que essa história vai terminar tão cedo...

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